Thiago Fadini
Secretaria de Esporte e Qualidade de Vida

O sorriso fácil espelha muito mais do que a conquista da medalha de ouro nos 82º Jogos Abertos do Interior. É reflexo do retorno da autoconfiança, da autoestima e de simplesmente participar de uma competição de alto nível.

A competição de judô encerrada no último domingo (18), em São Carlos, representou uma retomada na carreira do judoca Lucas Turti, que integrou o elenco comandado por Elessandro Lima, o Dedé, e Luis Guapo, apoiado pela Prefeitura de São José dos Campos. Depois de 8 meses sem poder competir no tatame por conta de um estiramento de ligamento no joelho direito e uma luxação no polegar da mão esquerda, ele venceu a categoria até 60kg com louvor e chegou a se emocionar.

Ele conta que o primeiro duelo não foi nem contra outro atleta, mas sim contra a temida balança. “Foi muito difícil bater o peso, tive uma semana difícil... Na hora que pesei na balança e cravei ‘meia zero’, a primeira luta foi vencida ali”, disse Turti.

Passado o momento tenso, era hora de encarar a ansiedade pré-luta. E o crédito de vestir o quimono confiante é direcionado aos mentores que, desde seus 8 anos de idade, quando entrou para a equipe do programa Atleta Cidadão, buscam mantê-lo focado no esporte.

“Primeira coisa que o Dedé falou pra mim foi: ‘você lembra do seu campeonato mundial?’”, relembrou o judoca. “Era isso, era relembrar a história para me motivar. O senseis me deram todo o apoio, me motivando emocionalmente. Para nós, atletas, o mais importante é o psicológico”, completou Lucas Turti.

A medalha do joseense formado em Educação Física, que mora na Vila Industrial, região leste, com a avó, foi uma das 11 conquistadas pelo judô nos Jogos Abertos do Interior. Os homens terminaram com o título de campeões, enquanto que as mulheres se sagraram vice na disputa geral.

Passada a euforia pela conquista, Turti só pensa na próxima temporada em que pretende retornar às grandes competições como os campeonatos Paulista e Brasileiro, além do Troféu Brasil.

“O próximo plano agora é que todo mundo vai descansar e eu vou trabalhar. Essa medalha me mostrou que eu sou capaz, lutei com atletas fortes e muito competentes. Isso me mostra que não tem nenhuma distância entre o que eu quero e aonde estou”, falou o atleta, valorizando a honraria.

Avó linha dura

“Menino, vai treinar! O cansado fica sentado na calçada enquanto vê o campeão passar”. É com essa frase que Dona Vicentina, 78 anos, chama a atenção do neto quando bate aquela preguiça de levantar da cama para treinar.

A avó de Turti o criou desde o momento em que saiu do hospital, já que a mãe não tinha condições de cuidar dele. Desde então, ele diz, “somos só nós dois, hoje e pra sempre”. Apoiadora da carreira, ela sempre incentivou o jovem a buscar seguir o caminho que quisesse, fosse de quimono, fosse chuteiras ou ainda de sunga e touca.

“Se quisesse jogar futsal, ela me levava, se quisesse ser nadador, me levava todos os dias na natação. Quando disse que era o judô que eu queria para a minha vida ela me apoiou”.

Lucas Turti começou a treinar judô efetivamente aos 6 anos de idade. Aos 8, entrou para as categorias de base mantidas pela Administração. Quatro anos mais tarde foi campeão estadual pela primeira vez e foi aí que viu que a brincadeira de judoca poderia virar coisa séria. Tanto que depois do primeiro grande título, ele conquistou ainda outros dois Paulistas, um Brasileiro e um vice-mundial no Gymnasiade (Jogos Mundiais Escolares), em 2013. Se tornou membro da Seleção Brasileira Escolar e Principal e participou de etapas do Circuito Europeu, na Itália e na Rússia.

Finalizada a competição realizada no São Carlos Country Club, Turti pegou o telefone e ligou diretamente para a ‘avó coruja’. “A gente chorou no telefone juntos, que bom que tudo está valendo a pena. Estava sem levar uma medalha assim para casa há uns dois anos, um título de expressão”, afirmou.

Inspiração e valores

Além da avó Vicentina, Lucas Turti busca se inspirar, assim como todo esportista, em ídolos da modalidade. Ele vê os grandes atletas como heróis, fontes para ser melhor a partir do exemplo. E seus espelhos são muito mais próximos do que um atleta de alto nível poderia imaginar.

Leandro Cunha, lutador olímpico de São José dos Campos, que, segundo o próprio Turti, “é um exemplo de humildade”, e Moacir Mendes Júnior, que já foi considerado o melhor do mundo e que para o jovem é o atleta que “mostra o caminho das pedras” dentro do judô. “Come judô, bebe judô, respira judô. É isso que ele (Moacir) falava”, disse.

E como quase todo talento formado pelo programa Atleta Cidadão, Lucas Turti enalteceu o os valores de cidadania recebidos em quase 10 anos que esteve integrado, assim “como os professores, foram duas referências de ser humano para mim”.

Além de atleta, Turti foi também estagiário do programa durante a graduação em Educação Física. Por isso, o valor de ser um Atleta Cidadão vai ser preservado e relembrado sempre ao longo de sua vida.

“Se eu não fizesse parte do programa e não tivesse vividos as situações, convivido com as pessoas e com os meus senseis, que fizeram papel até de pai para mim, não conseguiria viver a vida que estou vivendo hoje”, afirmou Lucas Turti.