Comprovadamente uma das melhores cidades para se envelhecer no Brasil, São José dos Campos tem aumentado a assistência e melhorado a qualidade de vida da população idosa.

O município figurou na 34ª colocação entre 150 cidades com mais de 100 mil habitantes no Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade (IDL), lançado no início deste ano pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP).

A pesquisa observa as condições de vida para as pessoas que tenham 60 anos ou mais e analisa sete variáveis: indicadores gerais, cuidados de saúde, bem-estar, finanças, habitação, educação/trabalho e cultura/engajamento.

A posição foi alcançada graças às boas estruturas mantidas pela Prefeitura de São José dos Campos, como as unidades da Casa do Idoso, o Creas (Centro Especializado de Assistência Social) e os programas desenvolvidos especialmente para a terceira idade.

Uma das ações que se destacam é o programa De Bem com a Vida, promovido por professores de educação física da Secretaria de Esporte e Qualidade de Vida em parceria com os profissionais da Secretaria de Apoio Social ao Cidadão.

Com o auxílio de tacos, argolas, cubos, bolas e outros brinquedos adaptados, os educadores desenvolvem exercícios que envolvem coordenação motora e raciocínio, promovendo também a integração entre os pacientes assistidos.

O resultado do trabalho realizado para os idosos é relatado pelos próprios atendidos e por quem participa ativamente do dia a dia deles. O senhor Alcides Suarez Rivera, 77 anos, frequenta a Casa do Idoso Sul há pouco mais de três anos e conta que os jogos adaptados pelos profissionais de educação física e as atividades do local o ajudam a controlar a doença de Mal de Parkinson.

“Isso tudo ajuda a dar uma reforçada (nas articulações) e está melhorando. Tenho que trabalhar a cabeça e por isso faço pintura e desenho, além de já ter estudado computação e inglês. Essas atividades me fazem bem”, disse Alcides que é peruano e vive em São José desde os anos 70.

Oranides Alves de Sá, 73 anos, é uma das mais animadas com os exercícios, tanto que ela precisa se policiar para não exagerar na energia, já que passou por uma cirurgia delicada no coração há pouco mais de dois meses.

“Gosto de dançar, gosto de brincar, jogar peteca, tudo que tem exercício. Agora estou maneirando um pouquinho, mas gosto de tudo que me chamam para fazer”, contou Oranides, que só não vai à unidade da região sul quando tem que ir ao médico.

Benefícios

De junho a setembro deste ano, foram realizados 232 atendimentos somente nas unidades sul e leste da Casa do Idoso. O mês inicial marca o início de inclusão dos espaços dedicados à maturidade no roteiro do programa. Nos últimos seis meses, juntando as 22 casas de assistência social que recebem as visitas, foram 2.760 atendimentos.

Quem acompanha a rotina dos pacientes mais velhos exalta o início dos atendimentos nas casas dedicadas a eles. De acordo com os especialistas, o efeito do estímulo aplicado sobre os idosos faz com que eles, mesmo em um dia de desânimo, acabem se esforçando para não deixar a visita do De Bem com a Vida passar em branco.

“Quando essa equipe chega, já é um estímulo para os cuidadores, nos incentiva também a levá-los para a atividade”, falou Ivone Nogueira, enfermeira da Casa do Idoso Sul.

A técnica de enfermagem, Fernanda Barbosa, endossa a fala e explica que “há desistências, às vezes, mas os cuidadores vão estimulando e eles (idosos) acabam fazendo e gostando, porque se animam bastante”.

“A gente ajuda e está ali brincando, eles ficam mais animados. Quando é só eles, já ficam mais desanimadinhos”, completou Fernanda.

Sorrisos que curam

O trabalho no De Bem com a Vida é desenvolvido por 13 professores de educação física e três auxiliares, que se dividem entre os atendimentos nos períodos da manhã e da tarde.

Todos os brinquedos e aparelhos usados no programa foram desenvolvidos pelos profissionais e especialmente para pessoas idosas, com deficiência (física, mental e visual) e em situação de reabilitação, sempre visando a integração dos participantes.

E é essa união que faz com que o senhor João Felisberto Silva, 66 anos, seja um dos mais eufóricos. Ex-atleta, ele chegou a jogar por um clube profissional de futebol de São José dos Campos, quando juvenil.

“Quando eles chamam, se eu estiver lá, eu venho e participo de qualquer atividade. Pra mim é uma coisa nova, participei muito de futebol, natação, já fiz de tudo”, disse João Felisberto.

De acordo com a enfermeira Ivone Nogueira, o bem estar emocional se reflete no lado físico dos pacientes, pois as atividades “facilitam a memória do idoso e o movimento”.

Dona Oranides Alves de Sá, que vive sozinha, diz que sentiu saudades da programação da Casa do Idoso enquanto esteve no hospital se recuperando da cirurgia cardíaca e, com humor, admitiu que ficou preocupada em saber se seria aceita novamente na casa.

“Eu gosto muito. Outra vez eu fiquei ruim, vim para cá e melhorei. Nesses dias também estava em casa, chorando, aí cheguei e fiquei melhor”, contou Oranides.

João Felisberto Silva, que chegou a encontrar amigos de longa data na unidade sul, compartilha da opinião da amiga e se declarou um dos líderes da ‘bagunça’ na Casa do Idoso.

“Participo de tudo e com alegria, porque dentro da minha casa vivo uma vida conturbada. Então, quando venho para cá eu me sinto feliz e o que posso fazer para a turma aqui rir, eu faço mesmo”, afirmou o ex-atleta.

Qualidade de vida

Iniciado há 19 anos, o programa De Bem com a Vida atende asilos, casas de apoio à pessoa com deficiência (física, mental ou visual) e unidades de reabilitação, tanto públicas quanto particulares.

Além das unidades da Casa do Idoso, estão no cronograma de atendimento público o Integra (Centro de Referência da Pessoa com Deficiência), URL (Unidade de Reabilitação Leste), a Escola Municipal Elza Bevilacqua e as unidades do Caps (Centro de Apoio Psicossocial) Centro/Norte, Leste, Sul, Infantil e AD.

Em média, a equipe do programa visita de duas a cinco instituições de assistência social por período, dependendo do tipo de atividade desenvolvida em cada lugar, de terça a sexta-feira. Os atendimentos acontecem das 8h30 às 11h e das 14h às 17h.

No final do ano, os atendidos pelo De Bem Com a Vida têm a chance de colocar em prática tudo o que aprenderam, participando da Olimpíada Recreativa Esportiva Especial (Oree).

O evento, que tem duração de 4 dias, promove competições de jogos de mesa, vôlei e atletismo adaptado, além de um festival de dança. A edição 2017 da Oree está programada para acontecer de 28 de novembro a 1º de dezembro.