Secretaria de Esporte e Qualidade de Vida

Beatriz Rosa

O atleta Thulio Toledo Santos, 31 anos, é um exemplo de superação na vida e no esporte. Com distrofia muscular severa, encontrou na bocha paralímpica o caminho para se tornar um campeão dentro e fora das quadras.

Vice-campeão das paralimpíadas universitárias deste ano, na categoria BC3, Thulio subiu ao pódio pelo terceiro ano consecutivo. Em 2018 e 2019 ele conquistou o bronze na modalidade. “O ouro ainda não veio, mas subimos um degrau a mais”, disse.

Thulio faz parte dos atletas de Alto Rendimento de São José vinculados à APPD (Associação das Pessoas Portadoras de Deficiência), tem o apoio da LIF (Lei de Incentivo Fiscal do Esporte) e o patrocínio individual da Vinac.

Ele conta que conheceu a modalidade por meio de um convite do atleta e campeão paralímpico Antônio Leme e seu irmão Fernando Leme, em 2015. A bocha paralímpica é voltada a esportistas com grau severo de comprometimento físico-motor, por paralisia cerebral elevada ou lesões medulares.

“Tó, como é conhecido Antonio Leme, estava treinando sozinho para a paralimpíada e o irmão dele me viu na rua e fez o convite. Eu já havia me formado em publicidade e estava trabalhando, mas senti que era hora de aceitar algo diferente. Foi a melhor escolha que eu fiz”, disse.



Thulio se inspirou na vida do esportista e construiu seu próprio caminho. Em sete anos praticando a modalidade, já teve diversas conquistas. A primeira medalha de ouro chegou em 2016 no Campeonato Paulista da Segunda Divisão. O título lhe permitiu alcançar a divisão mais alta da modalidade.

Outra grande conquista foi a medalha de bronze no Campeonato Paulista de Pares, onde disputou com medalhistas de ouro.

O título mais recente veio neste ano. No retorno às quadras, após a pandemia, Thulio garantiu o bronze na paralimpíada universitária, onde disputou com atletas do Acre, Ceará e da região sul do país.

Para ele, a bocha permitiu o contato integral com o esporte de alto rendimento. “Eu percebi que me enquadrava no esporte e poderia almejar títulos e uma trajetória esportiva.”

Antes de praticar bocha, Thulio teve contato com o judô. Ele acompanhou aulas da modalidade e chegou a decorar o nome de cada golpe. “Era lúdico, mas eu não conseguia vivenciar o esporte”.

Hoje, a rotina de Thulio é intensa e bem inclusiva e com treinos semanais. Ele conta que agora o desafio é continuar se superando. “Estou sempre buscando técnicas novas para sair do padrão, seja adequando equipamentos e densidades durante as competições ou acompanhando outros atletas”.

O esporte trouxe também uma vida social mais ativa e automotivação. “Conheci muita gente legal durante as competições. Uma mudança de ares e de vida. No esporte não se compete apenas com o adversário, mas com a gente mesmo, buscando evoluir o tempo todo. Essa automotivação revigora e nos faz pensar que tudo é possível. Para qualquer pessoa essa sensação de evolução é importante.”

Inspiração

E Thulio têm inspirado jovens atletas que também buscam na bocha paralímpica a oportunidade de uma carreira promissora no esporte.

Aos 11 anos, Anna Lívia Arruda Dalmas, da categoria BC3, estreou no esporte com vitória nos Jogos Escolares e foi selecionada para compor a Delegação do Estado de São Paulo em disputa nacional das Paralimpíadas Escolares.



Anna faz parte da escolinha de base da bocha paralímpica da Secretaria de Esporte e Qualidade de Vida.

“Fiquei muito feliz com os resultados e quero participar bastante das competições para representar São José com a ajuda de minha família.”

Sua mãe, Camila Arruda, 31 anos, é sua assistente. E as duas estão juntas a todo o momento. Na bocha paralímpica é permitido o auxílio de um calheiro.

Anna sonha em ser desenhista e pretende aliar os estudos à sua evolução no esporte. “Exige bastante concentração, atribui responsabilidade e nos faz focar em um objetivo”, disse.

Celeiro

São José dos Campos se destaca como um celeiro promissor de atletas na modalidade. Atualmente, a cidade mantém 50 praticantes, sendo que 25 representam a cidade no alto rendimento.

Para José Guardia, coordenador técnico da equipe de São José (APPD - Associação das Pessoas Portadoras de Deficiência de São José dos Campos) e professor da Secretaria de Esporte e Qualidade de Vida nas escolinhas de iniciação da bocha adaptada, a equipe de bocha da cidade vem evoluindo nos resultados.



“Nos últimos quatro anos seguidos, São José foi campeã estadual nos jogos escolares na categoria BC3 e finalista nacional por três anos. Também temos atletas que integram a seleção brasileira da modalidade, como Antonio Leme e nomes promissores como o Thulio. Temos representantes no alto rendimento e também na base”.

Guardia faz parte da seleção brasileira de bocha paralímpica desde 2018 e integrou a equipe de análise de desempenho do Brasil nas Paraolimpíadas de Tóquio. Para ele, São José se destaca como exemplo na formação de atletas na modalidade.

“São José possui um dos maiores números de praticantes do país. Um esporte inclusivo, onde o atleta, mesmo com grau severo de comprometimento, executa todas as ações. É um jogo de precisão, raciocínio e estratégia. O poder de decisão de cada jogada é exclusivamente do atleta.”

O próximo desafio da equipe joseense de bocha paralímpica é o Campeonato Paulista de Bocha Paralímpica, que acontece nos dias 30 de setembro, 1° e 2 de outubro.

O esporte

A prática da bocha paralímpica consiste em lançar bolas coloridas o mais perto possível de uma bola branca. Os atletas ficam sentados em cadeiras de rodas e limitados a um espaço demarcado para fazer os arremessos.

É permitido usar as mãos, os pés e instrumentos de auxílio, e contar com ajudantes (calheiros), no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros. Os jogos são divididos em quatro sets com seis minutos cada para o lançamento das bolas.